[Publicado do "Diário do Minho" de 2001.04.23] |
Sete Fontes: um pequeno passo para a sua salvaguarda...
O Conselho Directivo da ASPA
A ASPA, passados seis anos após ter requerido a classificação do Sistema de Abastecimento de Água à cidade de Braga, do Século XVIII, mais conhecido pelas
Sete Fontes, congratula-se publicamente com o pequeno passo administrativo que foi dado na semana passada no sentido de se avançar com a salvaguarda, para o futuro, daquilo que é já considerado como um monumento de âmbito nacional. Se é verdade que o "Plano Director Municipal" (PDM) já contemplava timidamente a integridade física de algumas das suas estruturas aéreas, com o edital agora publicado fica indiciada a hipótese de se poder preservar, além da arquitectura
Barroca, também a obra hidráulica, isto é, o testemunho da engenharia
setecentista em Braga. Estamos no bom caminho, mas não é mais do que um simples começo.
Como todos certamente concordarão quando falamos de fontes, não nos podemos esquecer do principal - a água!!. Que sentido tem preservar as fontes se nelas podem deixar de
regurgitar a suas águas?!
Na verdade, a proposta que nos surge claramente expressa na planta do edital, não dá qualquer garantia aos bracarenses de poderem continuar a usufruir, como até agora, da belíssima e preciosa linfa que a todos pertence desde, pelo menos, há cerca de dois séculos e meio. Nunca é demais recordar que as Sete Fontes foram doadas a todos os bracarenses pelo Arcebispo Dom José de Bragança. Não foram o resultado de uma qualquer promessa eleitoral.
É possível que os terrenos onde o sistema está instalado jamais estivessem classificados como "Reserva Ecológica Nacional" (REN), ou no mínimo, fazendo justiça às suas qualidades e à utilização que têm desde tempos imemoriais, como "Reserva Agrícola Nacional" (RAN). Essa era uma iniciativa que deveria ter cabido, antes de tudo e em tempo oportuno, ao Exmº Sr. Presidente e à Câmara a que preside. Como, ao contrário do que seria de esperar, o PDM passou a admitir para o local a
urbanização e os equipamentos em moldes atentatórios de todo o conjunto, aos quais ainda se teve o desplante de acrescentar uma "auto-estrada", bem na "mouche" de uma das
"mães-de-água", não se pode, com efeito, vislumbrar, nestas condições, mais beleza para as Sete Fontes do aquela que se pretende para os cemitérios.
Qualquer técnico, por menos destro que seja nestas andanças, sabe que, para ser possível salvaguardar os recursos de água - que é já hoje reconhecido como o ouro do século XXI - será necessário
proceder a um estudo hidrogeológico do local; e, para preservar o conjunto será igualmente preciso
elaborar um plano de pormenor. Se nos é permitido sugeri-lo, a Câmara Municipal de Braga tem aqui uma oportunidade excelente e única para realizar aquele que poderá ser um dos melhores parques urbanos que qualquer cidade alguma vez ambicionaria possuir.
A manter-se a situação tal e qual como está prevista no edital que entra agora em período de "reclamações" o que se vai passar a seguir não é difícil de imaginar. Os agentes imobiliários que normalmente são conhecidos pela sua sensibilidade de espírito e pelo amor ao próximo, vão uma vez mais invocar o nosso fragilizado Estado de Direito e recorrer, com voz inocente, ao também nosso paradigmático sistema judiciário. Virão então todos exigir o que as contradições da lei normalmente consagram nestes casos - ou seja, o direito de poder construir mais caixotes de betão nas quintas das Sete Fontes. A Câmara de Braga, que mais uma vez parece ansiar pelo papel de "vítima" no meio disto tudo, depois de declarar que fez tudo o que podia, dirá, quando já for tarde de mais, não poder ir contra a lei. E assim mais uma vez é Braga que fica a perder.
Como não estamos em crer que o Partido Socialista que está no poder não deixará sobrepor os interesses imobiliários que pairam sobre estes terrenos em detrimento dos direitos ancestrais de todos os bracarenses, não só dos seus 82
penistas que ainda hoje beneficiam dessa prerrogativa, bem como o das crianças de Braga de continuarem a ver a água das Sete fontes cair em alguns dos fontanários da cidade, estamos certos que a razão e o bom senso irão prevalecer. É bom não esquecer que estamos em ano de eleições. A Câmara pode, a Câmara deve, a Câmara ainda está a tempo.
É que, caros concidadãos, as Sete Fontes sem água é como o jardim de Santa Bárbara sem flores, a Sé sem sinos; ou Sporting de Braga a jogar sem bola...